(Escrevi ouvindo N° 1 party Anthem do Arctic Monkeys, mas também é legal ouvindo Constelations do Jack Johnson)
 Pelo telescópio dava para ver a lua. As crateras que se espalhavam por aquela grande bola iluminada e nessa noite era lua cheia, ela podia ver tudo. Ele estava sentado na cama com um cigarro na mão e não estava nenhum pouco interessando na lua, mas sim na silhueta que a luz fazia quando encostava na garota. Quando ela se mexia ele podia ver tudo por debaixo da camisa social que estava usando a pouco tempo.
- Você não deveria fumar dentro do quarto, vai ficar com um cheiro horrível.
- Ah, seu perfume já impregnou o quarto inteiro, baby. Não acho que nada possa ser mais forte que esse cheiro doce.
 Ele não estava vendo o seu rosto, mas podia saber que ela havia revirado os olhos.
 Soltando o telescópio, a menina que chamaremos de Colibri caminhou em direção do rapaz Ósculo e sentou em seu colo, tomou o cigarro dele, deu um trago e depois o jogou na direção da janela e pode imaginar a ponta do cigarro caindo lá em baixo. Ficou pensando se tinha caído na cabeça de alguém, seria algo bem interessante, não é?!
 Ele a segurou e olhou em seus olhos.
- Você é engraçada. Era meu último cigarro.
 Ela deu de ombros.
- Existem milhares de cigarros no mundo, você pode comprar outro.
- Você vai comprar outro.
 Ela revirou os olhos. Eles se conheceram naquela noite. Foi uma noite boa. Ele estava sozinho no bar e a abordou porque ela também estava sozinha. Ela era advogada e ele era um jornalista que tentava a carreira de escritor havia algum tempo, mas estava escrevendo coisas tão ruins quanto as minhas. Ele achou interessante ela usar óculos de sol dentro do bar e quando perguntou ela respondeu que, se não estivesse usando aquilo, ninguém pagaria bebidas para ela e ela teria que pagar a conta do bar. Ele a achou engraçada e percebeu o cansaço através das lentes pretas que cobriam os olhos dela. Depois que foram para a cama ele viu que ela tinha olhos comuns, mas muito bonitos, talvez bonitos demais. Esquece o comum então.
 Agora estavam ele, ela e o CD do Pearl Jam tocando na caixa de som dele. Ele tinha gastado muito dinheiro com aquela caixa de som porque amava música, mas ela nunca chegou a saber disso.
- Ei – ela disse e tirou um cílio que havia caído na bochecha do rapaz – faz um pedido.
 Ele fez. Não queria que a noite acabasse. Infelizmente o pedido não se realizou e ele ficou se perguntando na manhã seguinte, quando a cama estava vazia, se deveria mandar uma mensagem para ela, mas decidiu que não. Ironicamente, ela pensou a mesma coisa no mesmo momento e chegou a mesma conclusão.
 Eles dois se encontraram alguns anos depois. Ele tinha acabado de se divorciar e ela estava solteira havia três anos. O rapaz que havia se apaixonado ficou com ela durante um ano e meio e, quando ela revelou a ele que estava grávida, ele foi comprar cigarros e nunca mais atendeu a ligação dela.

 Agora Colibri e Ósculo estavam mais velhos, mais cansados, mas ela já não usava os óculos escuro para esconder, acho que estava cansada demais para lembrar disso. Eles fizeram amor aquela noite, enquanto a filha dela estava em casa com a babá e os filhos dele estavam passando o fim de semana com a mãe e eles acharam engraçado o beija-flor e o beijo e não planejaram nada porque os bons romances são imprevisíveis e muito mais legais, como o mar ou as crateras da lua.


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