Ô meu Bukowski.


Abandonei esses livros solitários, que você digitou com tanto ardor em suas máquinas de escrever, porque já não me identifico com as linhas dos seus poemas.
Suas linhas combinavam com o tamanho da solidão que habitava o lado da minha cama.
Hoje, pelo menos por hoje, o amor não é um cão dos diabos, mas sim a luz que eu nem imaginava existir.
Ainda cometo erros em poemas. Ainda escrevo torto por linhas tortas, porém agora sinto que achei. Achei?
Ô velho Buk.
Queria sentar em uma mesa de bar com você, velho vagabundo, e saber se na tua experiência de ruas e putas você já sentiu ter achado o que eu sinto ter achado.
Tomar um vinho barato e discutir, nas suas palavras simplificadas, o porque muitas das suas frases agora não fazem sentido para mim. Ou talvez eu só não queira que façam. De qualquer forma, não sinto mais que O Amor é Um Cão dos Diabos.
“Há tamanha solidão no mundo
que você pode vê-la no movimento lento dos
braços de um relógio”.
Ele disse que o tirei de sua solidão também. Será que diminuí o peso do relógio?
Eu sentia minhas mãos mortas, e meu coração morto, mas agora eles estão mexendo meus dedos nas teclas diariamente, tentando, desesperadamente, transformar ele em uma poesia, ou em um texto, ou em uma prosa… qualquer coisa para registrar seu eu em minhas palavras, cravá-los no eterno de todo poeta.
Hoje ele me acompanha com os seus cigarros e suas bebidas e seu cheiro e suas manias. Hoje deixei a solidão que você descreveu de lado e permiti que ele me guiasse pelos diferentes lugares que a gente não pode navegar sozinho.
Ô Buk,
espero que as palavras positivas que você já escreveu tenham feito sentido por muito tempo, porque só agora eu entendo suas metáforas amadas e meio amargas. Entendo porque agora eu sinto, e espero que você a tenha encontrado e deixado suas putas baratas de lado.
(Isabela Gomes)


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